O prefeito de Maricá e vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá, provocou forte reação durante um seminário de segurança pública organizado pelo partido no Rio de Janeiro ao defender a megaoperação que deixou 122 mortos nos Complexos da Penha e do Alemão, em outubro. Diante de uma plateia formada por militantes, gestores e especialistas, Quaquá declarou que o Bope “só matou otário” durante a ação, o que gerou protestos imediatos no auditório.
Segundo o prefeito, a operação atingiu “bandidos que oprimem o povo” e, na visão dele, não havia trabalhadores entre os mortos. Assim que concluiu a frase, participantes começaram a gritar “mentira”, e uma mulher o confrontou afirmando que um morador da região, trabalhador, teria sido morto de forma brutal. O bate-boca interrompeu o andamento do seminário e expôs novamente as divergências internas do PT sobre políticas de segurança.
As declarações de Quaquá não refletem a posição do partido nem do governo federal. No mês passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou a operação como uma “matança”. O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, também criticou a ação, chamando-a de “desastrosa”. A fala do prefeito, porém, não surpreende quem acompanha sua trajetória: ele já havia defendido a operação logo após a execução e voltou a se posicionar no mesmo tom no evento desta terça-feira.
Após o embate com a plateia, Quaquá conversou com jornalistas e reforçou que considera a ocupação permanente de territórios dominados pelo tráfico como condição essencial para reduzir o poder armado de facções. Disse que a operação foi “mal sucedida”, não pelo número de mortes, mas porque o território não foi ocupado de forma contínua. Ele também comparou o caso ao Massacre do Carandiru, em 1992, dizendo que a ação no Rio superou a letalidade do episódio que deixou 111 mortos e que, se a intenção fosse eliminar o poder do tráfico, “teria que matar mil soldados”, em referência ao contingente estimado de criminosos na região.
O seminário em que tudo isso ocorreu reuniu integrantes do PT por dois dias para discutir diretrizes de segurança pública e lançar uma cartilha com diagnóstico e propostas para mudanças no setor.
